1.10.10

Adeus.

O céu nunca me pareceu tão iluminado aquela noite.

Parecia até que o mundo sentia o que ia acontecer, e conspirava para que aquilo não me fosse tão chocante. As palavras dele batiam como rachadas frias de vento contra minha pele, eu sabia o que ele queria dizer, eu sabia o que toda aquela situação significava, apesar de todo o rodeio que eles estavam fazendo. O velho da face dele, as lágrimas contidas em seus olhos, os deixando cada vez mais vermelhos e destacando o verde, e aquele nó em sua garganta pulsante, o condenavam como culpado. Seus olhos percorriam a sala, em um nervoso, nunca visto igual. A sala ficou fria, o sofá duro e o pedaço minúsculo de pêra em minha boca, ficará gigante e sem gosto, minha garganta secou e os meus olhos se encharcaram, parecia que minha pressão caía. Tudo estava lento, meio parado, silencioso. A única coisa que quebrava aquele silêncio, eram as tentavias dele de me explicar o que acontecia. Sentindo meu corpo gelar, tentei relaxar no sofá, que a cada minuto parecia cada vez mas duro e desconfortável. Desistindo da pêra e me concentrando só naquele momento, engoli a mesma com secura e dificuldade, ignorando completamente o desconforto que senti quando ela desceu pela minha garganta seca. Ele olhou em meus olhos e envolveu o próprio rosto em suas mãos, abaixou as mãos e olho para cima, voltou o seu olhar para a minha direção, mas não para o meu olhar.

- Ela estava sofrendo, você não acharia justo se ela recebesse um descanso ? Ela precisa...

Nesse momento tudo se calou de vez, parou, eu não podia ouvir nada e muito menos ver, na minha cabeça só se passavam todos os momentos em passamos juntas, aquele momento pareceu uma eternidade.
Então, um calor súbito me acolheu e me confortou. Nesse momento, só conseguir me ouvir soltar um gemido de dor, só consegui sentir as lágrimas lavarem meu rosto, e só assim ele teve coragem de me confortar, mesmo assim ele não foi capaz de soltar a fera triste, que naquele momento habitava seu coração.

E assim ela partiu, de repente, mas sem dor. Como ela queria, sem precisar de ninguém, depender de ninguém, deixou criadas e unidas as pessoas que podiam aconchegar naquele momento os seu pequenos. Tudo muito rápido e silencioso. Deixou dor, mas no final dela, eu encontrei admiração e saudade.

Sinto sua falta.

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